segunda-feira, 30 de março de 2009

Intoxicação por Metais Pesados, (Ex: CHUMBO)

Chumbo

Henry Okigami

Chumbo é um metal que tem sido usado por mais de 8000 anos para diversas aplicações em vidros, pigmentos, maquilagem, transporte de água, vinho cozimento e mais recentemente como aditivo antidetonante, componentes eletrônicos e baterias. É um poluente do meio total, significando que a exposição humana ocorre via ar inalado, poeira, alimento e água de beber e, além disso, não é conhecido ter função biológica.
Adicionalmente, há ainda pontos de fontes de chumbo, como áreas perto de incineradoras, siderúrgicas, e em regiões pobres, áreas onde a tinta ainda contém chumbo é uma fonte de exposição a crianças. Tem sido mostrado que chumbo é armazenado no osso e liberado durante a vida, especialmente em momentos de desmineralização óssea, como gravidez, lactação e pós-menopausa.
Então, mesmo com os níveis baixos de exposição atual, exposição precoce na infância a chumbo cria um nível no corpo que move do osso para o sangue, mantendo o nível de outros tecidos elevado. Efeitos do chumbo nos órgãos são bem caracterizados, incluindo sistema cardiovascular, renal, imune e reprodutivo, bem como osso e dente. Também tem sido identificado como um problema em humanos como carcinógeno. Mas o sistema nervoso e especialmente sensível ao chumbo. Há mais de 2000 anos, seus efeitos na função cognitiva e comportamento têm sido reconhecidos.
O chumbo mesmo em concentrações diminuídas pode causar efeitos deletérios no sistema nervoso, incluindo diminuição no QI, diminuição na audição e visão, falha da função nervosa periférica. O acompanhamento cientifico completo feito pela Environmental Protection Agency (EPA) em 1977 (Air Quality Criteria for Lead; U.S. EPA, 1977) revisou a toxicologia e epidemiologia de chumbo e concluiu (1) existe boa evidencia para ocorrência de encefalopatia em níveis de chumbo de 80 a 100 mcg/dL ou mais, (2) níveis sanguineos de chumbo estão associados com déficit neurocomportamental em crianças assintomáticas em níveis de 50 a 60 mcg/dL, (3) o organismo em desenvolvimento representa a população de maior risco e (4) exposição que resulta em níveis sanguineos de chumbo variando de 30 a 80 mcg/dL lesa a função cognitiva. Uma segunda avaliação finalizada em 1986 relatou que (1) disfunção nervosa central e periférica ocorre em nível de chumbo no sangue de 40 a 60 mcg/dL; (2) diminuição no QI ocorre a níveis de chumbo de 30 a 50 mcg/dL; (3) efeitos neurocomportamentais em ratos e macacos ocorrem com níveis de 20 μg/dL; (4) alterações funcionais neurocomportamentais persistem após exposição ao chumbo parar e níveis de chumbo retornarem ao normal, e (5) chumbo produz alterações na sinaptogênese, desenvolvimento dendrítico, formação das fibras e mielina, mecanismos iônicos de neurotransmissão e metabolismo de energia. Uma terceira avaliação foi completada em 2006 com achados que incluem (1) exposição ao chumbo no desenvolvimento criando um estado de concentração de chumbo de cerca de 10 mcg/dL resulta em falha que persiste na fase adulta em ratos e macacos. (2) nenhum limiar evidente tem sido encontrado para os efeitos de chumbo no sistema nervosa central (3) em ratos, déficit neurocomportamental associado ao chumbo persiste na fase adulta; (4) em macacos, déficit neurocomportamental ocorre tanto na fase de exposição apenas no útero como apenas pós-natal quando o pico de chumbo não excede a 15 mcg/dL e o estado estável de11 mcg/dL; (5) falha no aprendizado ocorre em animais em níveis de chumbo tão baixos como 10 mcg/dL, com nível alto de aprendizado mostrando maior falha que nível simples e (6) mecanismos associados com déficit cognitivo incluem resposta de perseveração, insensibilidade a alterações de pressão ou contingências, déficit de atenção, redução da habilidade a inibição de respostas inapropriadas, impulsividade e distratabilidade. Exposição ao chumbo contribui a efeitos no sistema nervoso central, porém os mecanismos da exposição ao chumbo contribuem ao aparecimento de doenças, desordens associadas ao eixo hipotalâmico-pituitario-adrenal. Estresse elevado, com correspondente alteração em níveis de glicocorticóides tem sido postulado somar para aumento de várias doenças e disfunção.

Chumbo foi associado com hiperatividade e impulsividade, mas não com inatenção e desorganização. Níveis de exposição baixa a chumbo pode ser um importante contribuinte para desordem de atenção em hiperatividade, concluem os autores.

Dados indicam que o chumbo, mesmo em níveis hoje aceitáveis pelas agências de proteção e reguladoras pode comprometer a saúde de pacientes, particularmente grávidas e em desenvolvimento. A avaliação do chumbo no sangue é largamente aceito para avaliar intoxicação do paciente, visto que o chumbo deposita no osso, há sempre uma tendência a concentração constante no sangue.


Bibliografia
Nigg JT, Knottnerus M, Martel MM, Nikolas M, Cavanagh K, Karmaus W, Rappley MD. Low Blood Lead Levels Associated with Clinically Diagnosed Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and Mediated by Weak Cognitive Control. BIOL PSYCHIATRY 2008;63:325–331.
Navas-Acien A, Schwarts BS, Rothenverg SJ, Hu H, Silbergeld EK, Guallar E. Bone Lead Levels and Blood Pressure Endpoints A Meta-Analysis. Epidemiology 2008;19: 496–504).
Khalil N, Morrow KA, Needleman H, Talbott EO, Wilson JW, Cauley JA.
Association of Cumulative Lead and Neurocognitive Function in an Occupational Cohort Neuropsychology © 2009 American Psychological Association 2009, Vol. 23, No. 1, 10–19.
Ha M, Kwona HJ, Lim MH, Jee JK, Hong YC, Leem JH, Sakong J, Bae JM, Hong SJ, Roh YM, Jo SJ. Low blood levels of lead and mercury and symptoms of attention deficit hyperactivity in children: A report of the children’s health and environment research (CHEER). NeuroToxicology 30 (2009) 31–36.
White LD, Cory-Slechta DA, Gilbert ME, Tiffany-Castiglioni E, Zawia NH, Virgolini M, Rossi-George A, Lasley SM, Qian YC, Basha R. New and evolving concepts in the neurotoxicology of lead.Toxicology and Applied Pharmacology 225 (2007) 1–27.

3 comentários:

  1. muito boa essa postagem. bem esclarecedora.
    se possível, gostaria de saber onde encontrar os limites de metais pesados aceittáveis (por exemplo a dose letal)
    parabéns e obrigada!
    priscila
    brandao.priscila@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  2. Ulysses Freire da Paz6 de junho de 2010 às 06:29

    Pesquisas sérias e metodológicas como esta são ignoradas pelo PSDB no governo paulista, que prefere atribuir aos professores a responsabilidade pelo baixo potencial cognitivo dos educandos resultantes entre outros fatores - dos altos índices de concentração de chumbo decorrentes da combustão combustível, assim como da desnutrição nos três primeiros anos de vida, além das condições psicológicas dos profissionais de ensino assolada em duas décadas de achatamento salarial, enxovalhamento moral de pais de alunos, e pelas instituições que reprimem convenientemente tais movimentos reinvidicatórios, corroborando a citação de Franklin de Oliveira prefaciando o livro de Manoel Bomfim, publicado em 1905 e relançado em 2005: " A pior injustiça é a justiça política"

    ResponderExcluir
  3. Ola Dr Ana;
    Estou muito desesperada,espero que vc possa me ajudar,minha secretaria pos chumbinho com queijo em algumas gavetas do armario da cozinha,gavetas estas que nao usamos,porem estao fixas la,estou com 5 meses de gestaçao,tenho dois filhos um de 12 anos e outro de 6,esse metal estava la por dois dias ate que senti o cheiro forte e a pedi que retirasse queria saber os riscos que corremos,principalmente meus filhos inclusive o que carrego na barriga,por favor me ajude estou desesperada e me parece que vc entende bem do assunto,Deus te abençoe..
    meu e mail;janayna_vdgraaf@hotmail.com

    ResponderExcluir